quinta-feira, 7 de julho de 2011

Entrevista a Maria de Jesus Reino por Nídia Faria

Com experiência na área financeira e de gestão, Maria de Jesus Reino dedica-se actualmente ao Marketing, e foi aí que desenvolveu a sua vertente criativa. Há cerca de sete anos, a sua paixão por pintura tornou-se um hobby que cada vez mais se emancipa, tendo já conquistado espaço nas Amoreiras, no Colombo e no Oeiras Parque. De momento, o palco é outro: a AZO, onde permanecerá de dia 16 de Junho a dia 20 de Julho.

“Devemos pintar com toda a liberdade para expressar o que somos e o que sentimos”

Nascida em Moçambique, o berço das suas cores, Maria Reino esteve ligada desde pequena a artes. Possui, por isso mesmo, um instinto nato para criar e uma preocupação estética muito viva. Os lápis de cor, os livros de pintura e mais tarde as visitas a galerias e a museus foram-lhe aguçando a curiosidade e o gosto pelo mundo artístico. As suas preferências recaem sobre hoje abstraccionismo e expressionismo, sendo que este segundo dá contorno à sua última mostra, Tons do Mar.
Barcos à vela irrompem por entre a espuma e as ondas marinhas, quase se escapando da tela. Trata-se de um mar que não espelha o céu e de um céu rosado, sempre colorido de nuvens. Cascais, o Guincho e o Bugío são os cenários marítimos retratados pela artista. A mescla cromática passeia entre azuis e verdes, numa hipnotize que exala tranquilidade. Apenas as velas coloridas e a rebentação das ondas quebram a calmía do manto azul, estendido até ao horizonte. É o temperamento fluído do oceano que dita o movimento implícito na sobras, parecendo que os barcos à vela não se desafiam uns aos outros, mas às águas que atravessam.

1.     Maria de Jesus nasceu em Moçambique. Em que cidade cresceu?
Nasci em Lourenço Marques, agora Maputo, onde vivi até aos doze anos. Depois, vim para Portugal.

2.     Foi em África que encontrou inspiração para começar a pintar, ou esse interesse veio mais tarde?
Sempre me atraíram muito as lojas de lápis de cor e tintas e sempre gostei muito de pintar e de ter coisas para pintar. Nunca me passou pela cabeça, apesar disso, ter uma actividade artística mais séria. Em África apercebia-me das cores, dos diferentes ambientes, das coisas bonitas, e comecei a treinar o meu poder de observação. Desde miúda que sempre gostei de pintar pedrinhas, de fazer caixinhas, colares, de todo esse tipo de coisas. Descobri mais esta minha veia artística quando os meus filhos eram pequenos e comecei a organizar as festas de aniversário, desenhando e fazendo os seus bolos e as decorações. Ainda hoje, quando dou um jantar, adoro dedicar uma boa parte do tempo à decoração dos pratos, da mesa e das flores.
A pintura fez parte de uma sequência de acontecimentos que contribuíram para o desenvolvimento da minha expressividade e da minha criatividade.

3.     Cursou Economia na Universidade Católica, em Lisboa. Nunca pensou em mudar de área?
Quando me apercebi que o curso de Economia era muito teórico para mim ainda pensei
mudar para Gestão, mas optei por terminar o curso e depois seguir uma área um pouco diferente, mais prática e criativa, o Marketing .

4.     Quando e como encontrou tempo para a pintura?
Quando comecei a trabalhar, eu tinha uma colega pintora. Eu achei aquilo fascinante, mas nunca me imaginei a fazer o mesmo. Achava espectacular como ela tinha um trabalho tão absorvente e, à noite ou ao fim-de-semana, ainda conseguia pintar. Eu, nessa altura, estava preocupada em começar a carreira, em mantê-la, por isso a pintura mais a sério começou muito mais tarde.
Antes de agarrar um pincel pela primeira vez, há cerca de sete anos atrás, fui vivendo a arte como espectadora. O meu pai tinha muitos livros de pintura em casa. Comecei a frequentar museus, galerias e feiras de arte. Por exemplo, há mais de 20 anos que, quando posso, vou a Madrid a uma enorme feira de arte, o ARCO.

5.     Aprendeu a arte de pintar com António Marques, Oscar Baeza e Saul de Carvalho, no Arco e no Centro Cultural de Algés. Continua com as aulas ou já parou?
Eu comecei com uma professora de pintura. Fiz um ano em desenho com Saul de Carvalho, depois estive três anos a aprender com Oscar Baeza, no Centro Cultural de Algés, e, no Arco, participei num curso sobre figuração, onde fiz desenhos de corpos nus, com modelo vivo. Hoje, continuo esporadicamente com este último professor.

6.     Pinta há quanto tempo?
Pinto há cerca de sete anos, mas há uns cinco é que comecei a levar a pintura mais a sério.

7.     Consegue pintar em qualquer lugar e com barulho em volta?
Consigo. Aliás, quando está bom tempo, sabe onde prefiro pintar? No jardim da minha casa. Monto lá as telas.

8.     Quando pinta paisagens, procura fazê-lo no local ou a partir de uma fotografia?
Por uma razão prática, recorro muito à fotografia, até porque gosto de pintar quadros grandes, e não é muito prático transportar as telas.

9.     Tem, portanto, preferência por quadros grandes.
Sim. Quando pinto quadros abstractos, arrisco-me em telas maiores. Já pintei para uma amiga uma tela abstracta de três metros. Já em figuração, ainda não me arrisquei a pintar telas grandes, mas hei-de experimentar.

10.  O que é mais importante para si quando pinta?
O essencial é expressar-me. Pintar é materializar sentimentos. Eu não pinto no local por uma questão prática, como lhe disse, mas gosto de tirar notas, de estar num sítio e esboçar aquilo que vejo. Ou ando com a máquina fotográfica e tiro fotografia à paisagem, às pedras, às cores e às texturas, que tento expressar nas minhas pinturas abstractas.

11.  O que a diverte mais: o expressionismo ou o abstraccionismo?
Às vezes tenho dois ou três trabalhos a meio, e pego naquele que na altura me apetecer. Não sei. Considero que a minha onda, mesmo quando figurativa, adquire um traço irregular, de contornos esbatidos. Gosto de pintar barcos e fazer sair a cor das velas com o vento… No fundo, o expressionismo das cores mescla-se com o abstraccionismo dos contornos, sempre esbatidos.

12.  O que é a arte?
Arte é a materialização de uma sensação bonita, que me traz bem-estar e que me dá vontade de representá-la. Pode ser também algo visível, palpável até.

13.  Então, a sua arte surge apenas de algo bom, bonito, e nunca de algo angustiante, feio ou assustador.
Exacto. Imagine uma sensação chata, horrível. Nunca me apeteceu pegar numa dessas sensações e transformá-la numa obra. Nunca tive essa necessidade de fuga. Tem de me dar prazer. Pintar é a minha meditação!

14.  Pinta para si e por prazer. Isso quer dizer que não cria a pensar nos espectadores?
Talvez pela minha experiência em Marketing eu tenha facilidade em compreender o gosto das pessoas. Calçamos os sapatos do consumidor, como se diz. Já fiz um ou outro trabalho personalizado, em termos de tema e de cores, mas sempre à minha maneira. Se eu conhecer a pessoa, consigo criar algo que me dê muito prazer e que, simultaneamente, se encaixe nela.

15.  Pretende fazer disso um hobby ou um trabalho mais sério?
Até há bem pouco tempo era apenas um hobby. Mas as coisas vão evoluindo e passei a dedicar mais tempo e energia à pintura. Isso permite começar a ter um trabalho mais consistente e começou a fazer sentido expor e vender. Aí, surgiu a Passpartout, onde fiz a minha primeira exposição.

16.  Já expôs nas galerias Passpartout das Amoreiras, no Colombo e no Oeiras Parque. Porém, no dia da inauguração da sua exposição aqui, na AZO, disse-me que esta era a sua primeira.
É que essas galerias fazem exposições colectivas, onde vários artistas expõem. Esta, Tons do Mar, é a primeira exposição só com obras minhas.

17.  Como surgiu a oportunidade de expor na AZO?
Quando achei que já tinha trabalho suficiente, comecei há procura, e vim à AZO. Falei com o Carlos, ele foi ao meu atelier e gostou das minhas obras. Recebi o convite para expor neste espaço as obras que tinham a ver com o mar, que calhavam bem por causa do Verão, e aceitei.

18.  A temática a que se dedicou é bem focalizada: o mar. Retrata essencialmente Cascais, Gincho e o Bugío. Porquê este tema?
Primeiro, porque para mim o mar tem um significado muito importante. Nasci e sempre vivi ao pé do mar. Ao fim-de-semana acordo e vou tomar café na praia ou passear no paredão. É um dos meus passatempos preferidos. Adoro a linha de Cascais e ando sempre com a máquina fotográfica atrás para captar as nuvens, a água, e fico cheia de vontade de pintar o que vejo. Também pratico vela, desde os vinte anos. Houve uma época em que fazia regatas como o meu marido.

19.  Entretanto, começou neste mês de Junho a dar aulas de pintura no Alegro com o apoio da AZO. Partiu de uma iniciativa sua, novamente, ou de um convite?
Foi uma proposta, e eu até comecei logo a dizer que não. Não me considero professora de pintura. Mesmo assim pensei que, se calhar, aquilo que já sei poderia transmitir. Acabei por aceitar e foi uma experiência muito interessante. Acho que ajudei as minhas alunas a descobrir um pouco do prazer de ter um momento criativo, só nosso. Ficaram todas com vontade de continuar a pintar.

20.  O que tem aprendido?
Quando dou aulas, noto que duas pessoas podem pintar a mesma imagem, mas estas ficam sempre diferentes. Devemos pintar com toda a liberdade para expressar o que somos e o que sentimos. Vale tudo!

21.  O que planeia ou prevê para um futuro próximo?
Em Outubro, num espaço e projecto familiares, vou abrir uma galeria para expor trabalhos de diversos artistas. Além disto, como tenho também muitos amigos que gostam de pintar, vamos criar um espaço de pintura e de convívio.

22.  Enquanto pintora, apesar de ter um reinado ainda muito recente, já se pode com certeza autoavaliar. Em três palavras, como se classificaria?
Sou expressionista. Sou descontraída. E sou livre.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Exposição de Daniel Curado


título/ "Beauty's with bikinis at the beach"
técnica/ mista s/ tela
dimensões/ 150x150cm
ano/ 2008

DISPONÍVEL


título/ "Freestyle"
técnica/ óleo s/ tela
dimensões/ 150x150cm
ano/ 2009

DISPONÍVEL


título/ "Good vacances (1.3 version)"
técnica/ óleo s/ tela
dimensões/ 150x150cm
ano/ 2008

DISPONÍVEL


título/ "Old school / New school"
técnica/ óleo s/ tela
dimensões/ 150x150cm
ano/ 2008

DISPONÍVEL


título/ "Traffic III"
técnica/ óleo s/ tela
dimensões/ 150x300cm
ano/ 2011

DISPONÍVEL


título/ "Traffic IV"
técnica/ óleo s/ tela
dimensões/ 100x100cm
ano/ 2011

DISPONÍVEL


título/ "Traffic V"
técnica/ óleo s/ tela
dimensões/ 100x100cm
ano/ 2011

DISPONÍVEL


terça-feira, 19 de abril de 2011

Entrevista a Sofia Monteiro por Nídia Faria

Sofia Monteiro formou-se em arquitectura em Lisboa há catorze anos. Acabou seduzida por design e multimédia, e, após alguns anos de experiência na RadicalMédia e à frente da Seis à Parte, abriu a empresa MediaFoundry, onde é sócia-gerente. Com cinco anos de mergulho e três de fotografia, é com trinta e nove que hoje inaugura a sua primeira exposição, “Somos Feitos de Água” – apresentada na Fábrica de Braço de Prata em Fevereiro –, que ficará na AZO até dia quatro de Maio.

“A água é o meu mundo.”

É dentro de água que todo o espectáculo se passa. Aí, nesse mundo líquido e silencioso, tudo ganha uma energia diferente, ondulante. O espectador sente-se submergir num azul imenso onde a leveza e a beleza do vagar conferem a cada movimento um perfeito slowmotion. Quem mora debaixo de água é Lulaah, a mulher-sereia, cuja pele-pérola ora se esconde, para guardar segredos seus entre os véus, ora se deixa revelar. A cada momento subaquático a sua feminilidade sobe à tona, partilhando connosco instantes de intimidade e de cumplicidade, que alternadamente vão conquistando o cenário num pequeno jogo de sedução. Neste lugar a comunicação é muda mas real, e passa para o espectador através de um olhar curioso, falador, ou da postura de um corpo bonito, entregue à lentidão da água, sem pressa nem rumo. A própria nudez surge com naturalidade, e a brancura da pele reluz num contraste belo com a imensidão azul escura.
 Entre a sedução da quietude e do mover da própria água, experiencia-se então uma paz inexorável que assume uma forma de mulher. Essa forma expande-se em torvelinho entre cabelos, dedos, braços e pernas, sugerindo por vezes um retorno da vida à sua origem, como se a água funcionasse enquanto o ventre de uma mãe e nele estivesse a acontecer vida. “Somos Feitos de Água” é o nome da primeira exposição fotográfica de Sofia Monteiro, que promete surpreender não só por possibilitar ao espectador uma interacção com outra dimensão, mas também por conseguir transmitir, através uma linguagem aquática, o que às vezes as palavras não conseguem: sou mulher.


A Sofia formou-se em arquitectura há catorze anos. Onde?

Na Faculdade de Arquitectura, no Chiado, em Lisboa. Fiz lá a licenciatura, que durou cinco anos. Queria ter continuado e tirado um mestrado em História Estética e Fenomenologia da Arquitectura, que era uma cadeira que havia no quinto ano, muito filosófica, mas era preciso ter uma bolsa, e não consegui. Entretanto, acabei por enveredar por outra área, design, na qual trabalho de momento, e acabei por esquecer o assunto. Mas gostava de ter tirado mesmo esse mestrado…


Tirou arquitectura, mas seguiu design e multimédia. Teve facilidade em encontrar trabalho?


Quando terminei o curso, precisamente porque queria ter tirado o mestrado, voltei ao ateliê de arquitectura onde tinha trabalhado durante o quarto ano. Pagavam-me muitíssimo mal e acabei por sair, e, por coincidência, um colega do meu curso, que estava um ano à frente de mim, tinha formado uma empresa de multimédia e convidou-me para trabalhar com ele. Eu nunca tinha mexido em computadores, fiz o curso todo à mão, mas fiquei com esperança de receber um ordenado melhor que me desse mais tarde para tirar o tal mestrado. Na altura a empresa chamava-se RadicalMédia, e estive quatro a cinco anos a trabalhar lá. Nunca mais me lembrei do mestrado, comecei a adorar a área. Depois, eu mais dois colegas decidimos sair e formar uma empresa de multimédia – os Seis à Parte. Éramos seis sócios e ao final de seis meses a sociedade estava a desfazer-se. Havia pessoas muito inexperientes, muitas opiniões diferentes, não nos entendíamos nada bem. Eu e um dos sócios, Pau Storch, saímos e estivemos um ano e meio a juntar dinheiro para formarmos o que viria a ser a MediaFoundry, agora com quase nove anos. O que nos fez voltar a juntar para formar uma segunda empresa foi sobretudo a experiência de trabalho em conjunto.



O que pretendia com a criação da MediaFoundry?


Trabalhar numa área de que eu gostava muito, mas de uma forma que eu entendia ser a correcta. Enquanto fui empregada de outra pessoa, vivi na pele situações muito injustas, desde a falta de pagamento de ordenados, até uma abordagem aos clientes que eu não considerava correcta.


E decidiu reciclar esse comportamento e criar algo onde o próprio comportamento fosse algo de que se orgulhasse.


Sim. Queria reciclar esse mau comportamento e expandir um bocadinho a área de actuação. Na MediaFoundry trabalhamos com fotografia, com vídeo, com som, e neste momento estamos dedicados às soluções integradas de comunicação, quer seja com um produto, quer seja com uma empresa. Fazemos uma reunião com o cliente, ele conta-nos quais são os seus objectivos, conversa um pouco sobre o que é o seu produto ou a sua empresa, e nós fazemos uma proposta geral de comunicação. Esta pode abranger comunicação em papel, websites e redes sociais.



Há cerca de três anos dedica-se à fotografia de uma forma mais artista, encarando-a, como já me disse, enquanto um projecto-autor. Quais os maiores obstáculos com que se tem deparado no papel de fotógrafa?


Até agora não houve obstáculos. Quer dizer, existe um obstáculo comum a todos os fotógrafos ou a qualquer pessoa que queira investir numa área de que goste muito e que exija um investimento financeiro elevado. É o caso do preço de um bom equipamento fotográfico. Vai-se investindo aos poucos e poucos.



Nunca ficou frustrada pela distorção da realidade que naturalmente sucede quando se fotografa? Por exemplo, estou a lembrar-me da alteração das cores reais dos elementos, que acontece muitas vezes quando se fotografa. Nunca sentiu que a foto tinha ficado aquém daquilo que desejava?


Não. Eu, como estou também na área de edição de imagem, consigo aprender a dar a volta a uma fotografia quando ela não resulta em negativo o que quero. Felizmente existe o ficheiro RAW, que é um negativo digital, através do qual eu consigo fazer o que quiser com a fotografia. Existe uma grande polémica em torno da edição de imagens, se é correcto ou não editá-las. Na área artística não considero que haja problema algum, pelo contrário – há pessoas que até me pedem para tirar uma ruga ou outra. Depende do objectivo. Em fotojornalismo discordo da edição, porque aí o que se pretende é mostrar a realidade. No campo artístico a imaginação é infinita.


Para além da empresa onde é sócia-gerente e da fotografia, tem mais alguma ocupação?


Eu comecei a fazer mergulho há cinco anos, e juntei o útil ao agradável – fotografia e mergulho – há cerca de três anos. Portanto, neste momento, o que me ocupa o tempo, para além do trabalho, é o mergulho e a fotografia.



Ao observar as suas fotos sobre a Natureza não deixei de imaginá-la como uma coleccionadora de cores, de texturas, de sorrisos e de cumplicidades. Os modelos vivos – insectos – são todos fotografados ao pormenor, como que expostos numa festa de pequenas vaidades entre a iridescência das borboletas, a azáfama das abelhas, e a delicadeza das libelinhas. Poder-se-á afirmar que o fotógrafo é um coleccionador de pormenores. Concorda?


Sim, e adoro! Mesmo nas fotografias debaixo de água, antes de ter uma lente macro, eu fazia questão de, na própria edição, olhá-la ao pormenor, e de repente descobria texturas, um espirógrafo, um nudibrânquio, reparava na textura de um peixe. Eu gosto muito de ir ao pormenor. Muito muito muito, e passo horas infinitas a fotografá-los.



Quais os detalhes de vida que mais gosta de capturar com a sua câmara?


Eu neste momento estou a ficar muito interessada na expressão das pessoas. Há pouco tempo não conseguia ainda fotografar pessoas. Sentia-me pouco à-vontade com o incómodo que eu estivesse a causar à outra pessoa. E eu não gosto que a pessoa faça pose, detesto. Gosto muito de fotografar o imediato, só que as pessoas não estão preparadas para isso. Então fotografava amigos! Desconhecidos na rua tinha sempre vontade de fotografar, e nunca conseguia. Agora estou a tentar ultrapassar isso, a tentar vencer a minha timidez, e falar com a pessoa. Caso ela não se sinta confortável, desculpo-me e apago a imagem à frente dela.


Os únicos animais de quatro patas que fotografou foram cães. Já pensou em fotografar animais selvagens?


Claro que já. Aliás, estou com uma viagem a África em mente. Gostava de ir ao Kruguer Park. Quero ter uma lente de longo alcance primeiro. Num futuro próximo vou também a Cuba, para fotografar tubarões e crocodilos. São maravilhosos. Eles próprios têm medo do flash da câmara… Já mergulhei com tubarões martelo no Sudão e no Egipto, e é um animal magnífico. Não é dos mais inocentes, é um bocadinho agressivo, mas se faço um gesto mais brusco ou utilizo o flash, eles fogem. Tenho de mergulhar de manhã, é o ideal. A água é o meu mundo.


Entre a fotografia terrestre e a subaquática, qual a que lhe oferece maior desafio e qual lhe tem dado maior prazer?


Ambos os ambientes oferecem desafios que lhes são muito próprios. A água é uma descoberta constante – nos cenários naturais que nunca se repetem, com seres vivos que não são muito comuns no nosso quotidiano, nas luzes e ambiências quase mágicas – que me oferece a cada mergulho uma experiência nova e completa. O mergulho e a fotografia subaquática preenchem-me.
A fotografia terrestre permite-me descobrir uma outra faceta de um cenário que conheço desde que nasci. De certa forma, consigo redescobrir o que pensava eu já conhecer.
Existe um percurso que adoro fazer a pé desde os dias de faculdade – o chamado passeio romântico, que começa no Largo do Rato; seguindo pela Rua da Escola Politécnica; passando pelo Jardim Botânico (o borboletário é de sonho) em direcção ao Príncipe Real; continuando a descer ao lado do miradouro de São Pedro de Alcântara em direcção ao Largo da Igreja de São Roque, depois até ao Largo de Camões e Chiado - um pequeno desvio para passar pelos teatros São Carlos e São Luís -  continuando a descer pela Rua do Alecrim até ao Cais do Sodré…e depois voltar!
Julgava eu que conhecia bem este percurso…
Espero, por outro lado, começar a descobrir as emoções nas pessoas – não através da expressão fotografada mas através da emoção de quem vê. É engraçado perceber como as pessoas têm reagido a fotografias minhas.
É muito provável que o próximo projecto seja dedicado às emoções.


Curiosamente, no seu site – sofiamonteiro.com – confessa que ter sentido a fotografia tornar-se um trabalho mais sério quando começou a fotografar debaixo da água. Hoje, na exposição “Somos Feitos de Água”, as imagens revelam não paisagem, mas gente no mundo subaquático. Qual a grande sedução que a água exerce sobre si?


É a luz! A luz debaixo de água é de uma beleza indescritível. Só estando lá. A luz, as cores, as texturas, a descoberta que foi e que é poder interagir com um peixe ou com um molusco, com um polvo...


Sente uma paz diferente.


Ah, completamente! É um recarregar de energias. É como entrar num mundo à parte.



Quando tirou um curso de mergulho foi apenas por curiosidade ou para mais tarde complementar a sua arte fotográfica com o curso em questão? Já tinha planeado fotografar o fundo do mar?


 Nada disso. Para mim foi uma surpresa. O curso de mergulho partiu de uma oferta de um casal amigo que já mergulhava. Ofereceram-me um baptismo de mergulho, felizmente de mar, e a partir daí a minha vida mudou. Quero isto para a minha vida, para sempre. Quis tirar o curso e comecei a mergulhar incansavelmente. Há vários níveis, e eu de momento já estou quase a terminar o Dive Master, que já me permite acompanhar os instrutores, e depois, com a continuação da formação, já poderei dar eu os cursos. Dar aulas é muito engraçado. Se Deus quiser, hei de chegar ao nível de instrutor e espero poder dar aulas. Adorava!



A exposição deste Sábado, dia dezasseis de Abril, aqui na AZO, esteve anteriormente na Fábrica de Prata de dia três a dia vinte e sete de Fevereiro. Aí, a essência do corpo humano e a da alma parece ficar a descoberto, talvez pelas imagens, que adquirirem uma perspectiva íntima e envolvente graças à própria nudez e à forma com esta é exposta – delicada, apesar de sedutora. O que é que queriam dar a entender?


Acho que um momento muito feminino. São várias formas de a mulher se entender a si própria e se dar a  entender aos outros. Há fotografias em que ela comunica muito com o espectador, há outras em que ela se volta muito para si própria. Acabámos por explorar a forma de comunicação da mulher, com ela mesma, com os outros.


Num jogo de esconde-esconde, por entre os véus submersos, o corpo feminino é revelador e misterioso em simultâneo. Usou os véus para que efeito?


Foi para cria toda essa nuance. Não queria mostrar o óbvio, então brincámos com o tecido debaixo de água. Criaram-se efeitos de sedução e de mistério. A ideia de leveza. Quis brincar com o movimento dos tecidos na água.


A sessão passou-se numa piscina, mas depois editou a cor da água. Era sua intenção fazer crer que tinha fotografado no mar?


Não, de todo. A cor escura era para criar um maior mistério, mas há dois momentos genuínos na sessão. O momento azul, mais frontal, onde a Lulaah comunica mais, e o momento negro, mais intimista, onde muitas vezes o corpo parece estar desconstruído, escondido entre véus.


Como encara a fotografia?


A fotografia é uma forma de estar comigo própria, é quase uma forma introspectiva de nos expressarmos e de descansarmos. Consigo estar horas infinitas a fotografar uma borboleta ou à espera de um pôr-do-sol.


Num momento de autoavaliação, enquanto fotógrafa como é que se define em três palavras?


Descobridora, sempre. Há uma característica que me acompanha indefinidamente, a humildade. E apaixonada.


Tem algum projecto futuro, para além das viagens a Cuba e a África?


Sim. De momento estou a montar um estúdio em Cascais, praticamente pronto. Acabei de comprar uns tecidos, já temos as softboxes, as luzes, tudo. E vou começar a fotografar proximamente pessoas. Tenho algumas ideias que irão envolver muito boa maquilhagem, adereços e pessoas com expressões fortes, espontâneas.

terça-feira, 22 de março de 2011

"Reflexos"


Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “4 Faces”
Técnica/  Bronze
Medida/  64x35cm 


Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Sentadas no muro” 
Técnica/  Mista s/ tela
Medida/  120x150cm



Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Pincelada vermelha” 
Técnica/  Óleo s/ tela
Medida/  33x41cm



Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Mergulhão” 
Técnica/  Calcário da Turquia
Medida/  157x35x35cm

Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Squeezing the ocean I”
Técnica/  Óleo s/ tela 
Medida/  50x50cm

Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Squeezing the ocean II”
Técnica/  Óleo s/ tela 
Medida/  50x50cm



Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Sardinha na boca”
Técnica/  Grafite s/ papel
Medida/  200x100cm 



Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Swallowing the bird”
Técnica/  Calcário / Alumínio 
Medida/  36x60x60cm




Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Wetsun Glasses”
Técnica/  Mista s/ tela 
Medida/  60x150cm



Artista/  Gustavo Fernandes
Título/  “Sardinha na boca” 
Técnica/  Óleo s/ tela
Medida/  60x150cm